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Vozes do inferno - Capítulo I - "Vislumbre profano"

"Estes fragmentos, referem-se a uma viagem "alegórica" ao interior do próprio ser deparando-se com a própria sombra, não possuindo em seu conteúdo, nenhuma questão ou intenção dogmática à quem quer que seja, ou mesmo intento de prevalecer alguma verdade...Tornando desta forma, uma leitura aberta às próprias interpretações, recheadas de mistérios que caminham pelo submundo humano e que possibilita utilizar a imaginação da melhor forma".

Vozes do Inferno é uma coleção de fragmentos, divididas em 6 capítulos de 12 atos cada, totalizando 72 atos, contemplando uma jornada rumo ao interior do próprio ser em busca de compreensão aos eventos relacionados à própria sombra onde em muitas ocasiões, certas atitudes, imposições e condicionamentos, obscurecem o entendimento e evolução do ser, causando repulsas e resistências ao desenvolvimento das condições humanas.

(“Templi Infernalis”).

Vozes do Inferno é dividido em várias jornadas cíclicas, em que a cada viagem é revelada uma nova chave para seguir adiante, rumo ao despertar e aprimoramento individual, criando um elo entre os obscuros mundos inexplorados, que separam as manifestações primordiais para a realização humana.

(A chave do entendimento foi fragmentada e espalhada entre os diversos mundos, havendo a necessidade de recuperação destes fragmentos para que esta mesma chave, seja novamente forjada nas chamas da sabedoria, permitindo a abertura do grande portal).




...Paz em sua jornada...


Ordem de leitura...

Siga a ordem de leitura ao lado (Arquivo do blog), começando pelo primeiro texto "Vislumbre profano".

7 - O senhor das sombras...

O manto da noite já se estende por grande parte do planeta. O tempo se faz temerário, fechado, avesso a estrelas, em uma região imantada por energias densas oriundas de espectros mentais negativos. Vencendo escarpas e desfiladeiros, avista-se uma cidade umbralina de imensurável proporção. Em uma das edificações, nota-se um fluxo vibracional intenso: luzes multicoloridas, pessoas aglomeradas próximas, em praças e vias públicas, outras dispostas na entrada como soldados; ninguém mais sai do imponente edifício, onde está acontecendo uma implacável assembléia, com a presença do soberano local: o Senhor das Sombras.Altivo, o proeminente líder das trevas, sobrepujando os presentes, pronuncia, seguro de si, Convoquei esta reunião para alertá-los de suas responsabilidades; serei inflexível diante da incompetência na execuçãode nossos propósitos. Temos leis e contratos a serem honrados. Diversas feições, desconfiadas, entreolham-se. Alguns momentos de expectativa, e nada! O Senhor das Sombras, com um olhar ainda mais penetrante, inflexiona novamente a voz na direção da assembléia espavorida:– Pois bem! Superficialmente, o que está projetado vem se cumprindo: as diversas ordens religiosas sob nossaorientação direta mantêm-se a largos passos, arregimentando multidões de adeptos, quase todos prejudicados pela ostentação inútil que implantamos sabiamente, há séculos, nas igrejas. Há um grande país tirano semeando o rancor, a inveja, o ódio e a dor entre as nações. Em breve, a revolta será incontrolável e então colheremos bons frutos. Mas precisamos manter vigilância; há ervas daninhas nas plantações.Seguidores do Escolhido estão por toda a parte, na Terra, implantando idéias de amor, compaixão e caridade...Convoquem todos os planejadores e intelectuais da ordem para trabalharem em regime de urgência! A figura imponente e sinistra do gênio do mal ajusta: – Quero lembrar que as incursões do Alto, a título de fiscalização, devem ser identificadas no portal de entrada e comunicada expressamente à divisão de rastreio. O momento não permite afronte; paciência é o segredo para se alcançar a meta. Embora esteja acordado que nossas atividades serão inspecionadas, manteremos normalmente a rotina do nosso sistema de auxílio aos necessitados, durante essas visitas, e cumpriremos com rigor os contratos de prestação de serviços, certificando-nos de que, ao fim do preito, o trabalho nos seja justamente remunerado. O regente pára o discurso por alguns instantes, e, com o olhar impassível e frio, contempla soberano as consciências que domina. Imperturbável, prossegue:O Senhor das Sombras levanta-se, indiferente; não lança sequer um último olhar à assembléia, que se mantém em silêncio; e caminha imponente, em direção à saída, acompanhado de sua escolta pessoal. No dia seguinte, a assessoria do mal inicia os preparativos para o inesperado evento: ergue às pressas um enorme palanque na praça central, que é via de acesso ao palácio do governador; reserva no tablado vinte assentos confortáveispara os membros de condições hierárquicas superiores, e uma aristocrática tribuna de honra destinada ao chefe maior; instala em pontos de ampla visão duas grandes telas retroprojetoras; e espalha por todo o perímetro várias caixas de som, com possantes amplificadores. Nos setores estratégicos da redondeza, incluindo os terraços dos prédios vizinhos, todo um amparato de segurança é montado: guardas armados, empunhando floretes e trajando uniformes de gala, portam pequenos binóculos e rádios transmissores.Os mensageiros correm; alguns conclamam o povo; outros se deslocam, em grupos, para o orbe dos encarnados. Raramente o Supremo fala em público; é preciso perfeição em tudo. Nota-se no ambiente um misto de medo e idolatria. A praça, os prédios em volta e as vielas mais próximas estão repletos de habitantes dos dois lados da vida. Alguns são quase totalmente animalizados na forma; outros desfigurados, com olhar de idiotia; muitos maltrapilhos e tantos outros em figurinos da época do domínio romano, da Idade Média, e até em trajes dos mais refinados à moda do século XXI. Reina na multidão singular atmosfera de desequilíbrioemocional; mentes rebeldes, desvairadas e enfermiças, agrupadas ou sozinhas, retratam a paralisia dos espíritos que por entre o Abismo e as Estrelas manecem à distância da luz.Tão logo é anunciada a presença do magnânimo das trevas, um silêncio sepulcral se opera. Em pé na tribuna, uma voz ecoa poderosa nas entranhas daquela assistência pervertida no mal: – Senhores do meu reino, concidadões, companheiros de ideal, eu os convoquei para lhes dizer que a vitória final se aproxima. O desespero toma conta das esferas superiores, haja vista os grandes desastres e infortúnios liberados peloOnipotente, com a única finalidade de se fazer temido e eternamente lembrado. A natureza humana sofre; nossas fileiras estão repletas de novos comunitários que, revoltados, trazem no semblante a indignação por tão inesperada atitude divina: verem seus entes queridos, de repente, com os corpos transformados em lama. Agora, entregam-se a nós para que tentemos aliviar as suas dores. Quantos de vocês não dobraram os joelhos, tementes a um deus invisível, suplicando sua misericórdia; fizeram promessas de redenção, e nada?!Que pai todo-bondade deixa o fraco ser esmagado pelo mais forte; ter de se humilhar, eliminar os instintos, suportar a dor e todas as provações, sem rancor, para só assim, mediante o sofrimento extremo, poder habilitar-se ao paraíso? Grandes tragédias ainda virão! O caos está presente e nada poderãofazer... Então, unam-se a mim! Uma pausa para sentir a comoção daquelas palavras no âmago de seus espectadores, e, vagueando o olhar ao redor, ele continua a fulminar o verbo: – Senhores, eu não tenho a menor noção do que seja o céu; penso que seja um reino destinado aos eleitos, onde repousam tranqüilos os “escolhidos” de um deus cercado de mistérios que julga tudo saber e tudo poder fazer...Esse deus mente porque detém para si os segredos da Criação e de tudo o que envolve a vida que nos é destinada. Na realidade, somos os abandonados por esse céu; mas, mesmo distante, há alguns de nós que foram ordenados por esse “grande juiz” para cumprir a parte cruel da sua lei, ou seja, subordinar àjustiça vigorosa todos aqueles que malbarataram as regras da vida. Somos lógicos e conscientes das imposições que regem o Universo; sabemos que aqui não há inocentes nem desavisados, e, para que a delinqüência não impere, devemos governar com mão de ferro. Entretanto, não há punição ou sentença sem razão, nem absolvição ou recompensa gratuita; nossa função é centralizar, em tempo justo, as verdades dasatitudes de cada um. Nestes confins, somos julgadores de nós mesmos. Quando sentimos que alguém nos deve, cobramos; esteja este onde estiver. Eis por que, quando devemos, pagamos, sem lágrimas, remorsos ou lamentações. Nesse ponto, convicto de que subjugara toda aquela multidão de espíritos, o sinistro Senhor das Sombras respira envaidecido. Em seguida, a voz possante do diabólico orador finaliza o discurso:– Aqueles que sobrevivem em nossas legiões são verdadeiros heróis. Desvalidos do complexo amor divino, expandem seus horizontes, fortalecendo suas emoções no ódio e nas paixões que herdaram durante a vida. Continuem vigilantes, audaciosos e firmes diante de nossos propósitos, porque o futuro pertence aos destemidos! Agora vão! A luta de todos vocês é a minha batalha. De todos os lados, ouvem-se as mais exaltadas exclamações:– Bravo! Muito bem! É o maior!... A exposição de idéias carregadas de sofismas vence Entre o Abismo e as Estrelas qualquer possível movimento de luz, refletindo-se naquelas consciências enegrecidas pela culpa. O tirano senhor esboça um sorriso carregado de orgulho, e sai.

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